Pode parecer estranho afirmar que uma comunidade centenária, como a nipo-brasileira de Itariri, tenha realizado, recentemente, sua primeira edição de um Festival de Música, mas a razão foi porque a atual gestão, considerando-o como o evento de encerramento de um ano de retomada das atividades interrompidas há mais de três anos devido à Pandemia, resolveu dar-lhe um formato fora dos padrões de competição (taikai), como um ato de confraternização.
Por isso, a esse festival resolveram também abrir mão da linha Santos-Juquiá (Ana Dias, Itariri, Juquiá, Miracatu e Pedro de Toledo), tradicional aos seus campeonatos de atletismo, vôlei, futebol de campo e de salão, etc. para estender convites a cantores de fora dessa linha, e de forma festiva, pelo karaokê. Com isso, uma caravana (van e carros particulares) de cantores vinda de São Paulo e Guarulhos “invadiu a cidade”, nesse dia.
Centenária como é, a prática do canto, na verdade, sempre existiu, via nodojiman e, posteriormente, karaokê taikai. Mas por pretenderem dar-lhe o caráter de confraternização e não de competição, é que se tornou o primeiro Festival de Música Japonesa de Itariri. Com esse formato, o evento que foi realizado no dia 10 de dezembro de 2023, no kaikan sito à Rua Profª Maria Florêncio Ribeiro Giglio, 111 – Itariri obteve resultado excepcional, até porque abriram também uma sessão… ou duas, de videokê, o que possibilitou a participação de muitos iniciantes (shinjins), até para estimular mais pessoas a cantarem. Deu certo!
Assim, o objetivo foi alcançado tornando-se, realmente, um evento de confraternização!
A Comunidade Japonesa e a Associação Nipo-brasileira de Itariri
A comunidade japonesa de Itariri foi iniciada a partir da vinda de Guensho Oshiro à região, em 1915, como o responsável pelo primeiro plantio de arroz, numa localidade chamada “Anta Gorda”. Tinha 29 anos de idade, na época. Com a vinda de novos imigrantes japoneses à região, já em 1922, fundaram a Associação Japonesa de Itariri e o próprio Oshiro, por unanimidade, foi eleito como o primeiro presidente da entidade.
Desde então a associação tem realizado, anualmente, vários eventos tradicionais típicos da comunidade japonesa, como undokai, gakugeikai, odori, nodojiman, beisebol, futebol, karaokê taikai, etc., mas de modo geral praticamente restritos aos moradores da região, que deu origem aos “torneios da Linha Santos-Juquiá”.
No cinquentenário da imigração local, em 1965, para comemorar a data, conforme anexo, houve grande programação cultural, gastronômica e social, com a presença de autoridades locais. Várias atividades e atrações, dentre as quais a eleição da Rainha do Cinquentenário, Neuza Iraha, que foi uma grata surpresa aos atuais praticantes do karaokê porque a própria, atualmente Neuza Sato, acabou se tornando vice-presidente da União Paulista de Karaokê (UPK) e, como tal, retornou a esse Festival de Música Japonesa, além de também cantar no mesmo.
E mais festiva, ainda, foi a comemoração do Centenário da Imigração Japonesa de Itariri, em 2015, que contou inclusive com desfile pela cidade, presença de autoridades locais e de fora; e até do Cônsul Geral do Japão, à época, Takahiro Takamae. Houve homenagens póstumas (Guensho Oshiro, Eichi Saka e Shige Shimamoto), especiais, moradores isseis e descendentes acima de 80 anos. Nas barracas espalhadas fora do kaikan, havia muita gastronomia japonesa, em especial da de Okinawa, como Okinawa Sobá, Yakisoba e Sopa de Hijá, etc. E no kaikan, lotado, houve apresentações de taikô, odori de Okinawa, Minyô, Karatê, etc., com prevalência às apresentações de Saito Satoru, mais atrações musicais como as de Edson Saito, Karen Ito, Nobuhiro Hirata e Heroes Sanshin Band. Estima-se que mais de 3 mil pessoas circularam no evento, naquele domingo de 11 de outubro de 2015.
As idealizadoras desse Festival de Música Japonesa
Noriko Higa, presidente da Associação Nipo-brasileira de Itariri.
“Um dos motivos de realizamos o Festival de Música Japonesa de Itariri foi o de resgatar o karaokê taikai que, por mais de quatro décadas, esteve presente no calendário de atividades da Liga Esportiva Nipo brasileira da Linha Santos-Juquiá. Neste ano, após 3 anos sem atividades, por conta da pandemia, Itariri foi a cidade-sede onde realizamos campeonato de atletismo, vôlei, futebol de campo e futebol de salão. E para encerrar o ano, queríamos algo festivo e veio em mente o karaokê. Daí, foi lançada a ideia de um festival de música japonesa, onde os cantores da região pudessem resgatar essa tradição, por ora deixada de lado. O Festival acabou ganhando nova dimensão, porque deixamos tudo a cargo da Célia Tamashiro e, ela com sua influência e ótimos contatos que tem, pode proporcionar a todos um grande show de música japonesa feito pelos seus convidados. Uma apresentação mais bonita que a outra. Sucesso e boa repercussão na certa. Quero expressar minha gratidão a cada participante deste Festival, e dizer que tudo ficou além de nossa expectativa e, principalmente aos colaboradores e patrocinadores, sem também os quais não seria possível essa realização. Obrigada.”
Naoko Kian, presidente do Fujinkai de Itariri
“Há muito tempo estávamos querendo fazer um evento com karaokê aqui em Itariri. E de uma conversa com a Noriko, presidente da colônia e da nossa vice-presidente do Fujinkai, Satoko Shinzato surgiu essa vontade de concretizar esse evento. Na reunião marcada para esse fim, decidiu-se dar o nome de Festival da música japonesa de Itariri. E, com a colaboração dos mais novos, tanto na cozinha quanto na parte da estrutura do evento pudemos, então, tirar essa ideia do papel. E mais, sem a ajuda da Célia Tamashiro, isso seria quase que impossível. Confiamos no seu trabalho, no seu talento de organização e principalmente na força de seus contatos e do apoio de sua família. Para nós do Fujinkai, o principal foco é servir boa comida, dando destaque ao Sobá e Yakisoba. Hoje tivemos também outras delícias para o público apreciar. Quem veio, pode experimentar. Enfim, juntar no mesmo local comida boa, show de cantores e boas companhias só pode resultar em algo festivo e de boa energia. Nosso muito obrigado a todos os envolvidos e participantes deste Festival.”
Satoko Shinzato, vice-presidente do Fujinkai.
“Apenas para reforçar o que as presidentes da Colônia e Fujinkai já disseram esse Festival foi a concretização de uma vontade que tínhamos faz algum tempo. Com a ajuda da nossa equipe do Fujinkai, e do apoio dos mais jovens pudemos fazer a nossa parte na cozinha. A organização da programação, cantores, toda a parte do palco, decoração do kaikan confiamos na pessoa da Célia Tamashiro, a quem sempre recorremos quando tem algum evento na colônia. Deu tudo certo. Assistimos a lindas apresentações, com cantores de Itariri, Peruíbe e principalmente de São Paulo que vieram, em grande número, prestigiar nosso evento, fazendo show maravilhoso. Nosso muito obrigado.”
Célia Tamashiro, coordenadora geral do evento:
“Fazer parte da organização deste Festival de Música Japonesa de Itariri foi um grande desafio. Pensar em cada detalhe desde a divulgação, do contato com os participantes, elaboração do programa, busca por patrocínio, decoração do palco, contratação de som e iluminação, lembrancinhas para os cantores, elaboração de fichas para mesa de som e apresentadoras foram algumas das minhas tarefas realizadas com ajuda das minhas irmãs, sobrinhos e cunhado. Todas as demais ações que contribuíram para o êxito deste Festival vieram do pessoal do Fujinkai, do atual núcleo da diretoria da colônia e principalmente pela presença dos cantores locais, de Peruíbe e da maciça presença de cantores de São Paulo.”
O Festival de Música Japonesa
Com início às 10h, o Festival foi dividido em três sessões, sendo a primeira, até como estímulo, exclusivamente aos adeptos do videokê; a segunda, em CD e pen drive, com maior quantidade de cantores, reforçada pela vinda de cantores de fora; e a terceira, para finalizar com o espírito da confraternização, novamente em videokê, dessa vez, espontaneamente, aberta a todos.
Abertura Oficial
Ao meio-dia, segunda sessão foi interrompida para a realização da Abertura Oficial, cuja mesa foi composta por Noriko Higa, presidente da ANB de Itariri; Naoko Kian, presidente do Fujinkai; Ione Kian, Fujinbu; Neuza Sato, vice-presidente da UPK; Margarida Saiki, criadora do On Line Karaokê, aos sábados, com análise de jurados conceituados; e, Silvio Sano, jornalista.
Logo a seguir o Festival deu sequência à, ainda, sessão CDs pen drives, até o encerramento oficial e prosseguir com nova sessão de videokês com inscrições feitas na hora.
Encerramento
No ato do Encerramento, tão logo se apresentou o último dos cantores inscritos que, por coincidência foi Célia Tamashiro, sua família foi homenageada pelo protagonismo à realização desse evento, cuja homenagem a própria Célia a recebeu. A outra homenageada foi a senhora Mitsuko Gushiken, ou “Mityan”, não apenas por ser a mais idosa membro do Fujinkai, com 88 anos, como por sempre estar presente em todos os eventos, ajudando na cozinha e, especialmente, “por sempre ser a primeira a chegar e última a sair”, como foi enfatizado na hora que lhe ofereceram uma homenagem de gratidão.
(Texto: Silvio Sano com a colaboração de Célia Tamashiro – fotos: Silvio Sano e arquivo da ANB de Itariri)
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