A capital paulista ganha no bairro da Aclimação uma loja de Chá Obaatian, chá preto artesanal do Vale do Ribeira, especialmente da cidade de Registro, cultivada pela audaciosa e muito simpática Ume Shimada. Aos 91 anos, inaugura sua primeira loja de chá preto artesanal e acessórios para fazer o chá como infusor de chá, balança, canecas, xícaras, bules, biscoitos no estilo japonês, entre outros.
A Obaatian (vovó em japonês) como é chamada carinhosamente por todos, ressuscitou sua plantação de chá em 2012 em meio ao mato que cresceu em seu sítio no Vale do Ribeira. Desde os cinco anos de idade dona Ume, ou Elizabete – nome de batismo -, já tinha intimidade com o chazal, pois catava semente brotada para seu pai. Hoje ela é considerada a “Rainha do Chá” na região.
A redação foi conferir de perto no Sitio da Família Shimada, localizado no centro urbano da cidade de Registro para conhecer sua história e saber como ela espantou a crise que assolava a região. “Olhava para o chazal coberto de mato, fiquei triste, chorava de tristeza”, conta. “Um dia eu conversando com amigos da região, soube que poderia limpar e recuperar o chazal. Então, não tempo, fiz a limpeza, fui à busca de maquinários, comprei uma máquina de secar e uma máquina de moer chá que tinha lá em um ferro velho, e estamos produzindo chá a todo vapor”, conta dona Ume, com uma disposição para encarar qualquer desafio, e ver as coisas pelo seu lado positivo.
De acordo com a dona Ume, por dia são colhidos 20 quilos de brotos de chá, toda a produção do chá é feita manualmente por ela. Os chás são feitos de brotos e folhas recém-emergidas, colhidas manualmente a cada duas ou três semanas de setembro a maio. Em três meses tem nova safra. Após a colheita, as folhas são espalhadas em grandes bandejas e deixadas para secar por períodos de tempo variados. Depois, elas são enroladas ou cortadas para liberar enzimas e, então, há a ‘fermentação’. Açúcares e taninos são liberados como os ‘fermentos’ do chá. Na verdade, esse é um processo de oxidação enzimática, pois não há formação de álcool. O processo é interrompido por aquecimento em certos estágios para produzir os diversos tipos de chá disponíveis. “Com a ajuda dos meus filhos, netos e funcionários, resgatamos a cultura do Chá Preto, com a qual convivi ortodoxamente desde a minha infância. Antes colhia os brotos e repassava para a Fábrica Amaya, porém eles deixaram de comprar os meus brotos e mantém produção própria”, lembra dona Shimada. Sem ter para quem fornecer os brotos, decidiu abrir a própria empresa de chá artesanal denominada de Obaatian, criada pelos netos.
Além da produção do Chá, o Sítio Shimada também cultiva 600 pés da melhor e mais doce lichia do Vale do Ribeira que é comercializada em dezembro na Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo). A Família Shimada não pára por aí, a filha Terezinha com quem dona Ume compartilha sua casa, produz biscoitos doces, nhoque de batata e mandioca, e também raviole e massas congeladas em geral.
A empreendedora Família Shimada, de olho no Turismo Rural pretende abrir as portas do sítio para receber grupos previamente agendados, para fazer um passeio no chazal e mostrar sua cultura na arte de fazer chá. Durante a entrevista dona Ume se mostrou muito otimista com os negócios da família. “Será um prazer em receber grupos em minha propriedade e experimentarem o meu chá. Um orgulho ver o meu trabalho sendo apreciado por muitas pessoas, e fazendo o bem”, diz emocionada dona Ume.
Vale do Ribeira viveu ‘época de ouro’ do chá preto
A região do Vale do Ribeira, no interior de São Paulo, era uma importante produtora de chá preto. Várias indústrias se instalaram pelo lugar para processar as folhas. A década de 80 foi considerada a época de ouro do chá preto no Vale do Ribeira, onde tinha sete fabricantes e mais de 1,5 mil produtores da cultura. Hoje, há apenas a fábrica de Amaya e Shimada que recebe matéria prima de apenas quatro produtores.
Isso faz com que as máquinas fiquem tempo paradas. O alto custo de produção torna difícil encarar a concorrência do mercado internacional. Um imigrante japonês começou a plantar chá em Registro em 1935. As mudas trazidas na época são preservadas pela família do imigrante como um símbolo da importância do cultivo. O ex-produtor Luiz Antônio Penteado, que teve plantação de chá por 15 anos, credita a decadência do plantio à valorização do real na década de 1990. Na antiga rota do chá em Registro ficaram fábricas fechadas e plantações perdidas.
Justamente quando a produção do Brasil é pequena e não tem como atender o mercado externo, os principais produtores mundiais enfrentam problemas climáticos. O Quênia perdeu parte da produção por causa da seca e a Índia por causa das enchentes.
Serviço
Obaatian Chás Especiais
Onde: Avenida Aclimação, 112 – Aclimação – São Paulo – SP
Horário: Segunda-feira à Sexta-feira da 12h às 19h
Sábado das 8h30 às 13h
Domingo e feriados é fechada
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