Colunas Krônicas

KRÔNICAS: Balada para Narayama II

Cena do filme A Balada de Narayama. (reprodução)

Ao ler sobre pesquisa recente do jornal Asahi que entre idosos no Japão o número dos que temem serem abandonados por suas famílias para morrerem sozinhos tem aumentado, fui remetido a um artigo que escrevi, pouco mais de vinte anos atrás, ao Notícias do Japão, um jornal direcionado aos decasséguis.

A razão, na época, foi devido às notícias sobre nipo-brasileiros que tinha ido ao Japão como tais, mas tendo de deixar familiares no Brasil. No caso, dos que estavam deixando pais idosos e, depois de algum tempo, encaminhando-os a alguma casa de repouso (asilo), onde teoricamente seriam bem cuidados.

Até aí tudo bem, visto que não tendo opção de sobrevivência no Brasil e o Japão dando-lhes essa possibilidade, o asilo ainda é uma forma de respeito aos pais por terem de deixa-los no Brasil. Acontece que, em muitos casos, com o tempo, os filhos estavam deixando de fazer contatos e, bem como, de pagar às instituições. Ou seja, abandonando-os!

Foi o que me levou a escrever o artigo, ao qual dei mesmo título, baseado no premiado filme de Shohei Imamura que tratava de um costume antigo praticado em um vilarejo no Japão, em fins do século XIX, que para aliviar a vida da família devido à pobreza extrema no país, os idosos, ao atingirem certa idade teriam de ser levados ao cume de uma montanha, considerada sagrada, onde aguardariam a morte chegar.

Fiz a associação porque Imamura conta sobre um filho que não se conformava em ter de cumprir essa tradição à sua mãe e fazia de tudo para não leva-la à montanha, enquanto ela, de tudo, para que ele cumprisse a tradição. Isso, há mais de um século!

Enquanto isso, nos dias de hoje, quando as relações familiares aparentam estarem mais estreitas, ao contrário, alguns filhos parecem querer levar seus pais à montanha.

Devido ao agito cada vez maior da vida contemporânea, o asilo é até ótima solução aos pais devido à vida social que lhes proporciona… mas nada substitui o amor filial. Né, não?!

O assunto também tem estado presente na palestra “Konfrontos & Konflitos, mesmo 110 Anos depois”, que mudará para… “mais de um século depois”, né… rs

Silvio Sano

- ARQUITETO, pela Univ. Mackenzie (1974), tendo como auge o projeto executivo da arquibancada superior do Estádio Santa Cruz (Recife), em 1981/82; ESCRITOR (sete livros, um dos quais: Corinthians, 100 Anos - Gols Ilustrados); COLUNISTA e CHARGISTA, desde 1996; JORNALISTA, com MTb desde 2012; e, COMPOSITOR (haicais e versões em português de músicas estrangeiras);
- conhece o Japão por quatro óticas diferentes (bolsista, 1975; lua-de-mel, 1980; Univ. Nagoya, 1985/87; e. decasségui, 1989/92);
- um dos administradores dos sites Nikkeyweb e Portal Oriente-se.
- Palestrante (tema atual: Konflitos Nikkeis, mesmo após mais de um século);
- tem páginas no Facebook, Twitter, Instagram e canal no Youtube
- email: silvio.sano@yahoo.com

1 Comentário

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  • Assisti o filme quando adolescente, mas me impressiona até hoje. Subentende-se que, com o frio, o corpo adormecia e se morria sem sofrer. Creio que na realidade, não acontece assim: quem já sofreu frio intenso, sabe que as dores são terríveis… imagine essa tortura até perder os sentidos.
    Silvio Sano san se refere nos tempos atuais a “alguns filhos” porque, graças a Deus, a grande maioria se torna pai
    ou mãe, como com desvelo foi criado.

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